Vieses Inconscientes: o que são e como impacta a empregabilidade dos jovens
Por: Gabriele Santos Paz
Aumentar a diversidade dentro das organizações é uma demanda que vem crescendo no mercado de trabalho contemporâneo. Contudo, muitos números nos mostram que essa realidade ainda é um desafio.
Uma pesquisa¹ feita pela Kantar² apontou que 80% das pessoas já viram discriminação no trabalho. Ao se aprofundar mais no assunto, percebemos outros dados alarmantes que serão abordados ao longo deste artigo.
Agora, entender o porquê desses dados pode ter muitas explicações. Hoje traremos uma em específico: os vieses inconscientes.
Esses são preconceitos, estereótipos ou pensamentos tendenciosos que criamos sobre determinados grupos sociais com os quais já tivemos algum contato ou experiência na vida. Todavia, eles podem prejudicar a nossa análise em determinadas situações, levando a decisões tendenciosas e comportamentos prejudiciais.
Tais comportamentos impactam de forma negativa várias decisões no ambiente corporativo, como, por exemplo, a contratação de uma nova pessoa para o quadro de colaboradores.
A partir desses fatos, percebemos que os vieses inconscientes estão diretamente ligados a exclusão social de grupos e a discriminação étnico-racial, de classe, de identidade de gênero, de orientação sexual, de pessoas com deficiência e etc.
A prática desses preconceitos é mais comum do que se imagina, seja no ambiente corporativo ou na sociedade. E essa realidade precisa ser combatida para que relações humanas e ambientes corporativos mais igualitários possam surgir. Nesse contexto, a melhor forma de evitar vieses inconscientes é conhecê-los.
Para isso, preparamos este conteúdo para que você entenda o que são vieses inconscientes, quais são os principais tipos praticados, suas consequências dentro das organizações e para a empregabilidade dos jovens. Continue a leitura do artigo para saber mais sobre o assunto!
O que são vieses inconscientes
Como dito na introdução deste texto, vieses inconscientes são associações que fazemos todos os dias, sem refletir, e que resultam em julgamentos, premissas e atitudes para com relação aos outros.
Em outras palavras, são preconceitos ou pensamentos tendenciosos a respeito de uma ideia, grupo ou indivíduo devido a experiências passadas que permanecem em nossos cérebros e influenciam nossas ações sem que percebamos.
Os vieses inconscientes têm como principais características os seguintes pontos:
- São associações imediatas por conta de vivências e experiências;
- Acontecem sem o nosso conhecimento;
- Não têm nada a ver com o caráter e podem ser evitados;
- Podem representar o contrário de nossas crenças e valores.
Essas generalizações estereotipadas podem ser sobre questões geracionais, étnicas, raciais, classes sociais, orientações sexuais, gêneros e outras questões que não definem o que as pessoas são. O que acaba acontecendo, é que quando tomamos decisões rapidamente, às vezes, o viés inconsciente aparece e influencia nossas ações.
Vale ressaltar que todas as pessoas são “enviesadas” devido às crenças incorporadas inconscientemente ao longo da vida. Isso significa que somos todos suscetíveis aos vieses porque somos humanos. Todavia, podemos nos atentar para identificar situações e raciocínios em que preconceitos tentam comandar nossa postura ou pensamento.
Quais são os tipos de vieses inconscientes?
Como vimos anteriormente, o viés inconsciente é um problema que pode acontecer com qualquer pessoa. E, o primeiro passo para combater um viés inconsciente, é identificar as formas como ele pode se manifestar.
Para isso, listamos abaixo os principais tipos de vieses inconscientes. Continue lendo.
Viés da afinidade
Já aconteceu de conhecer uma pessoa pela primeira vez e, antes mesmo de conversar com ela, não gostar dela? Esse é o viés inconsciente de afinidade agindo.
Esse viés se trata da tendência que as pessoas têm de se conectar com pessoas que sejam mais parecidas com ela, no que se diz respeito a questões ideológicas, atitudes, aparência, religião etc. Ele também pode ser conhecido como viés de semelhança e é um dos tipos de viés inconsciente mais comuns.
Pensando mais especificamente no mercado de trabalho, esse viés pode ser muito preocupante, pois, pode acontecer de um candidato mais velho ser selecionado porque aparenta ter a mesma idade que o recrutador, deixando de lado um candidato mais jovem e também qualificado. Assim, o recrutador pode se identificar com um candidato em específico, criando uma conexão baseada em uma imagem criada em sua mente, e não dar tanta atenção a outros.
Efeito Auréola
O efeito auréola faz com que nós assimilemos nossa visão geral de uma pessoa, a uma característica predominante. Ou seja, criamos a percepção sobre alguém com base em um único aspecto de suas características.
Seja uma impressão negativa, ou uma positiva, a primeira impressão atrapalha nosso julgamento, mesmo frente a novas evidências que apontem para o contrário.
Para evitar esse viés, lembre-se que todas as pessoas têm pontos fortes e também áreas a desenvolver, portanto, se “force” a pensar tanto nos aspectos positivos de alguém, quanto nos que ela pode melhorar.
Viés inconsciente de percepção
O viés inconsciente de percepção está relacionado à crença de um estereótipo sem base factual. É quando um indivíduo conecta alguma característica de outra pessoa a uma experiência negativa e essa conexão afeta diretamente seu julgamento e impede uma avaliação justa.
Um ótimo exemplo do viés da percepção é sobre a crença que algumas pessoas têm de que a área de TI não é para mulheres, já que existem poucas mulheres na área. Ou seja, o viés da percepção se trata de acreditar em algo que está propagado no imaginário social, sem aprofundar o conhecimento em relação aos fatos.
Em um processo seletivo, esse viés pode vir à tona com um candidato que tem tatuagens, por exemplo. O recrutador pode deixar de contratar uma pessoa qualificada e alinhada aos objetivos da organização, com base em um preconceito e uma crença irreal.
Viés de Grupo
Esse tipo de viés se trata de quando seguimos parâmetros e comportamentos de um grupo pela pressão que ele exerce.
Isso faz com que as pessoas busquem se enquadrar em determinado padrão social, como, por exemplo, quando apenas uma pessoa com opinião diferente acaba cedendo à pressão de um grupo e mudando a sua concepção sobre determinado assunto.
Nesse caso, o objetivo é não destoar da maioria e, ao fim, todos acabam concordando com a mesma opinião.
Ancoragem
O viés da ancoragem, também conhecido como efeito de ancoragem, ocorre quando confiamos na primeira informação que recebemos e baseamos nossa tomada de decisões nela. Ela funciona como âncora: sem essa informação prévia, a tomada de decisão poderia ser diferente.
Esse viés pode ser muito prejudicial e limitador, já que nos leva a ver as coisas de uma perspectiva limitada.
Por exemplo, a primeira coisa que um colaborador descobre sobre uma nova colega é que esta ficou desempregada durante o ano passado. Com isso, o colaborador concentra-se neste fato, já criando um pensamento errôneo e preconceitos, e não nas qualificações e competências concretas da nova colaboradora.
Memória Pico e Final
A Memória Pico e Fim indica a tendência que temos de, ao avaliar quão boa ou ruim foi uma experiência, nos basearmos no seu fim e na emoção que ela nos proporcionou.
A questão fim pode ser explicada de maneira simples: se ao final da experiência algo bom acontece, tendemos a avaliá-la melhor posteriormente. Por exemplo, um filme com um final surpreendente.
A parte emocional é um tanto mais subjetiva. Quando falamos de pico, nos referimos ao momento de maior intensidade emocional. Isto é, quando a pessoa atendida em um restaurante, por exemplo, se sentiu melhor ou pior? Foi ao provar uma comida deliciosa ou ao ser atendida pelo garçom?
Se o pico for negativo, a probabilidade de que a experiência seja registrada na memória dessa maneira é maior. Se for positiva, é mais provável que ela seja registrada como positiva.
Assim, percebe-se que o que fica registrado é apenas uma perspectiva da experiência e não ela por completo. O mesmo pode acontecer ao interagirmos com pessoas: alguém foi simpático ao final? Provavelmente será assim que lembraremos dela e o contrário também.
Viés Confirmatório
O viés da confirmação acontece quando tentamos corroborar um pensamento preconceituoso. Para exemplificar melhor, pense em uma situação em que você se encontrou com uma alguém e teve a impressão de que ela é arrogante e depois disso procurou informações que corroborassem essa hipótese. Isso é o viés da confirmação.
Ele visa “confirmar” crenças pré-estabelecidas no subconsciente, nos induzindo a criar tendências com base em julgamentos rasos, em vez de considerarmos informações realmente relevantes. Do mesmo modo, ele também nos faz ignorar qualquer informação que irá invalidar essa crença.
No mundo corporativo, esse viés pode surgir quando o responsável por um processo seletivo distorce ou ignora os resultados de testes e entrevistas para justificar seu favoritismo ou desagrado por um candidato.
Viés do estereótipo
Esse tipo de viés trata-se dos julgamentos que uma pessoa, que pertence a determinado grupo, faz a respeito de um indivíduo pertencente a outro grupo.
Esses julgamentos, são feitos em sua maioria, sem se basear nas qualidades efetivas das pessoas, ou grupo, mas sim com base em generalizações.
Infelizmente, é muito comum nos depararmos com esse tipo de viés no mundo organizacional. Por exemplo, há situações em que pessoas LGBTQIA+ nem sequer são consideradas para um determinado cargo ou função nas empresas por causa de pensamentos estereotipados em fundamentos retrógrados do senso comum.
Viés de performance
Essa categoria de viés inconsciente se trata de quando pessoas pertencentes a grupos dominantes são julgadas por seu potencial, enquanto pessoas de grupos em desvantagem, minorias, são julgadas pelas suas performances
Por exemplo, é comum notarmos as diferenças de tratamentos entre homens e mulheres no ambiente profissional. Os primeiros costumam ter mais oportunidades de crescimento e são mais acreditados independente de idade, enquanto mulheres costumam ser reconhecidas depois do sucesso.
É muito possível ver isso em cargos de liderança e/ou no mundo tech: quantas mulheres em cargos de liderança você conhece? E cargos de liderança no mundo tech? Aposto que não são muitas né? Fica a reflexão sobre o viés de performance nesses ambientes.
Viés da maternidade
Por fim, essa modalidade de viés se trata do julgamento em relação às mulheres que se tornam mães. Esse preconceito parte do pressuposto de que a maternidade impacta na produtividade e capacidade da mulher.
O exemplo clássico desse viés inconsciente no mercado de trabalho é a decisão de não promover mães com filhos pequenos a cargos mais altos. Esse pensamento tendencioso tem como fundamento a crença de que uma mulher não poderá viajar a trabalho, pois não terá com quem deixar a criança, por exemplo.
Importância se combater os vieses inconscientes
Como vimos, existem diversas categorias de vieses inconscientes e todas são prejudiciais. Ao se falar de ambientes empresariais especificamente, os vieses podem prejudicar não só os processos de gestão de pessoas, como também todos os processos de tomada de decisão.
Além disso, os vieses inconscientes criam desigualdade no acesso às oportunidades, e podem até influenciar nos resultados do negócio. Portanto, entender o que é um viés inconsciente e, principalmente, seus impactos é de fundamental importância.
Como já dito, a presença desses vieses no ambiente corporativo gera uma série de impactos negativos que afetam as relações de trabalho e prejudicam indivíduos Veja na tabela a seguir, por exemplo, alguns desses principais impactos:
Todos esses pontos são extremamente prejudiciais, mas um que vale destacar é a falta de diversidade. Fato que impacta tanto os negócios, quanto o futuro de quem quer entrar e crescer no mercado de trabalho.
Falaremos agora sobre o primeiro: Ambientes mais inclusivos e que valorizam as diferenças, proporcionam mais inovação, engajamento, produtividade e retenção de funcionários.
Quando as equipes são capazes de combater os vieses inconscientes, a criatividade aumenta e com isso, a inovação também irá melhorar. Já, quando a inclusão prevalece, micro agressões que poderiam passar despercebidas no cotidiano empresarial, passam a ser combatidas e assim os funcionários conseguem atuar de forma mais engajada e produtiva.
Por fim, de acordo com a McKinsey & Co, colaboradores de empresas diversas são 36% mais propensos a querer continuar trabalhando na companhia por 3 anos ou mais. Isso acontece devido ao fato das organizações se esforçarem para combater os vieses inconscientes. O que gera um ambiente de trabalho mais inclusivo e participativo, o que faz os funcionários trabalharem mais felizes.
Nota-se que combater os vieses inconscientes é de extrema importância em um ambiente empresarial. Além disso, esses, podem impactar negativamente não só os resultados da organização, como também reduzir as oportunidades de jovens qualificados que querem entrar no mercado de trabalho. Falaremos sobre isso no tópico a seguir.
Impactos para quem quer entrar no mercado de trabalho
Não é só nas organizações que os vieses inconscientes causam um impacto negativo. Isso também acontece com as pessoas que estão buscando oportunidades, seja para entrar ou se recolocar no mercado de trabalho.
A presença dos vieses pode gerar sentimento de exclusão, não pertencimento e falta de reconhecimento. Se ao tentar se candidatar a uma vaga em tecnologia, uma pessoa negra não é vista como uma boa candidata apenas pelo fato da cor da sua pele, por exemplo, tal fato, pode levar com que a pessoa candidata desanime, passe a acreditar que não tem espaço na área tech e desista.
Pensando em pessoas que já estão no mercado, muitos desses profissionais não têm seus talentos reconhecidos, não são vistas como pessoas com potencial de crescimento e tem suas carreiras prejudicadas. Podemos notar esse tipo de situação na escolha de líderes que não tem competência. Por exemplo, é comum que pais escolham filhos homens para serem seus sucessores de negócios independente destes terem competência.
Trazemos mais alguns dados alarmantes que representam o impacto dos vieses inconscientes na empregabilidade:
A presença dos vieses pode levar à perda de talentos. Muitas pessoas incríveis são deixadas de lado devido ao preconceito inconsciente e a crença de que certos tipos de pessoas não se enquadram em determinados locais, quando, na verdade, apenas suas qualificações deveriam impactar essas situações.
Conclusão
Como pudemos perceber neste artigo, os vieses inconscientes fazem parte do ser humano, Também aprendemos que eles não são construídos de propósito, mas é fundamental que sejam identificados para que os comportamentos relacionados a julgamentos rasos não sejam cometidos.
Para evitar que os nossos vieses inconscientes nos traiam é importante nos educarmos e termos consciência sobre eles – nada melhor do que entender sobre um assunto, para poder desmistificá-lo.
Contatos e experiências com membros de outros grupos reduzem significativamente os vieses, em especial para questões racial, de orientação sexual, identidade de gênero e geracional. E é muito importante que esse contato seja de cooperação e preferencialmente com um objetivo comum! Também vale ressaltar, que é de extrema importância que não haja viés confirmatório funcionando durante esse contato, ou seja, que as pessoas apenas busquem por evidências para comprovar suas hipóteses
Confira mais algumas consequências positivas dessa aproximação entre grupo diferentes:
- Reduz expectativas que a experiência será negativa
- Aumenta empatia pelo outro grupo
- Reduz a tendência de favorecer mais seu próprio grupo
- Cria maior conhecimento do outro grupo
- Reduz os estereótipos
- Cria um senso de se colocar no lugar do outro
- Leva a comunicação
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[1] Levantamento feito com trabalhadores de 24 setores diferentes em 14 países – incluindo o Brasil.
[2] Empresa líder mundial em dados, insights e consultoria.
[3] Fonte: Estudo realizado pela Kantar
[4] Fonte: Teste de Imagem – Campanha Governo do Paraná
[5] Fonte: Fundo Brasil
[6] Fonte: MindTek