Clube Delas: Um projeto para engajar e fortalecer mulheres a seguirem carreira tech

Um dos objetivos da Generation Brasil está em suprir um grande gap do mercado de trabalho: profissionais qualificados na área de tecnologia. Essa demanda se torna ainda mais desafiadora e relevante quando olhamos para os baixos números de mulheres no setor.

Elas são maioria no país em relação aos homens, chegando a 51% da população. No entanto, representam apenas 39% no setor de tecnologia e programação, segundo relatório de diversidade da Brasscom. 

O cenário já foi diferente

Nem sempre foi assim, pois entre os anos 70 e 80 os computadores eram usados  principalmente para realizar cálculos e processamento de dados, atividades então associadas à função de secretárias. Por conta disso, houve um aumento de 10% para 36% da participação das mulheres entre os profissionais de computação, e a maioria dos estudantes na área era do gênero feminino.

Muitas mulheres tiveram papel importante no desenvolvimento dos computadores e dos programas ao longo da história. Para citar alguns exemplos: Ada Lovelace desenvolveu o primeiro algoritmo da história, Grace Hooper criou o COBOL, a primeira linguagem de programação complexa e a Mary Kenneth Keller teve papel importante na criação da linguagem de programação BASIC.

Simone Souza, do Departamento de Sistemas de Computação USP São Carlos (ICMC-USP), diz para a BBC que até 1990 as mulheres eram predominantes nos cursos do setor. No Instituto de Matemática e Estatística (IME) da USP, em São Paulo, a primeira turma de Ciências da Computação, formada em 1974, tinha um total de 20 alunos, dos quais 14 eram mulheres (70%) e 6 homens (30%). Em 2016, a turma contava com 41 alunos, dos quais apenas seis eram mulheres, ou seja, 15%.

Então, o que mudou?

Alguns indícios apontam para questões culturais e de estereótipos. Os primeiros computadores pessoais foram lançados após 1984 e a divulgação era voltada para o público masculino, evidenciando muito os jogos. Assim se iniciava o desinteresse e afastamento das mulheres. 

Além disso, as meninas são pouco incentivadas na infância quando a elas são reservadas brincadeiras que envolvem bonecas. No ensino fundamental e médio a história se repete porque são pouco estimuladas para a área de exatas.

Como a Generation Brasil atua?

A Generation direciona seu trabalho para transformar esse cenário de baixa representatividade. Somos uma ONG global e sem fins lucrativos com o maior programa gratuito de capacitação e empregabilidade do mundo. No Brasil, atuamos com programas intensivos na área de programação, setor com maior número de vagas no país. 

Priorizamos pessoas em situação de vulnerabilidade social e econômica, assim como a formação de grupos diversos para aumentar a representatividade de mulheres, pessoas negras, pessoas com deficiências e a comunidade LGBTQIAP+ no setor de tecnologia.

Empresas parceiras como SumUp, Mercado Livre, Ambev, Zé Delivery, entre outras, nos procuram tanto para contratar nossos talentos como também para patrocinar turmas e tornar esse tipo de iniciativa possível.

Clube Delas e o olhar intencional para gênero

Não é necessário saber programar para estudar na Generation, mas como temos vagas limitadas as pessoas interessadas passam por um processo seletivo que possui algumas etapas. 

Se tratando de processos seletivos, sabemos que esse pode ser um tema que gera insegurança em algumas pessoas, principalmente de grupos de diversidade. Para garantir o maior engajamento e menor número de desistências desses perfis ao longo do funil de seleção, executamos ações afirmativas de atração e conversão com intencionalidade. 

Segundo o Informe de Percepção de Gênero, divulgado pelo LinkedIn em 2018, mulheres são mais seletivas ao se candidatar: elas tentam 20% menos vagas que os homens — elas sentem que precisam cumprir 100% dos requisitos solicitados pelos empregadores. A maior parte dos homens, contudo, arrisca com apenas 60%. Essa disparidade é ainda maior no setor de tecnologia e sentimos essa diferença a cada novo processo que abrimos.

Além disso, sabemos o quanto a síndrome da impostora pode atrapalhar nesses momentos, pois é uma condição psíquica, social e emocional, que faz com que as pessoas se considerem incapazes, pouco eficientes e desconfiem de suas próprias habilidades. As mulheres são as mais afetadas por uma série de questões socialmente estruturais. De acordo com a pesquisa “Acelerando o futuro das mulheres nos negócios”, feita pela KPMG, 56% das executivas entrevistadas temem que outras pessoas não acreditem que elas são capazes de desempenhar tais funções.

Pensando em todos esses fatores, criamos dentro do processo seletivo a comunidade Clube Delas que se iniciou com uma sessão no zoom em formato de roda de conversa com o objetivo de fomentar um ambiente aberto e seguro entre candidatas. Batemos um papo com as meninas candidatas sobre autoestima, síndrome da impostora, autossabotagem e também levamos várias dicas para mandar bem no processo seletivo.

O espírito de comunidade criado se estendeu para um grupo no WhatsApp onde todas começaram a trocar entre si e se fortalecerem juntas. “Ter o grupo Clube Delas para trocar ideias, informações e apoio foi um super diferencial. No grupo sempre tinham pessoas disponíveis e com disposição para tirar dúvidas e amenizar a ansiedade”, diz Giselle de Souza, aluna de 25 anos.

O resultado dessa iniciativa que está apenas começando é impactante: o número de mulheres que participaram do Clube Delas e foram aprovadas para o programa correspondem a 45%, quase metade de uma turma Generation! Uma grande conquista que nos mostra que estamos no caminho certo.